Assisti um breve vídeo do filósofo e escritor indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986), um trecho da sessão de perguntas e respostas colocadas a ele em 1981. Fiquei tão encantada com a clareza e a atualidade da sua resposta que resolvi escrever sobre ela. Para ele, que repudiou com firmeza qualquer imagem messiânica e o papel de “guru”, foi colocada a seguinte questão: “Qual a sua posição em relação a milagres? Disseram que você realizou o que normalmente se chamaria de milagre. Você nega esse fato?”
Krishnamurti responde com outra pergunta: por que isso é importante? Para ele, quando um médico cura alguém com os recursos da medicina, não nos impressionamos, porém, alguém que promova uma cura sem esses conhecimentos, é um milagre, nos assombramos, impressionados, tal qual crianças diante de um espetáculo. Entretanto, o verdadeiro milagre é quando o ser humano muda a sua natureza “corrupta e degenerada”, para florescer em algo extraordinário. E isso é possível, afirma ele.
Não discuto aqui a existência ou não de milagres, porém noto, inerente à expectativa que temos deles, a nossa tendência de esperar que a solução venha de fora. E aquilo que poderia ser louvável por comprovar a fé — divina ou fé em si mesmo — pode deslizar para o campo da acomodação. É o buscai e achareis do Evangelho cristão, se preferir ao filósofo indiano. Nesses tempos de compasso de espera, de isolamento, de críticas ferozes de um lado e do outro, estamos mesmo buscando ser melhor e fazer o nosso melhor, ou estamos esperando o milagre que irá nos livrar do sofrimento sem que saiamos dessa experiência seres humanos mais esclarecidos, empáticos e amorosos?
Durante a pandemia tenho tido mais oportunidades de me enxergar, colocando minha consciência na posição de um observador externo. Olho, ora para mim e ora para o outro, especialmente aquele cujas ideias e comportamentos discordo veementemente. E sabe o que sou obrigada a admitir? Que nossas semelhanças são maiores do que as nossas diferenças. Confesso que a experiência me dá uma certa irritação, me achar melhor do que aqueles que condeno dá uma certa satisfação. Porém, não será sobre isso que o filósofo se referia? Um milagre em que a clareza sobre si e sobre o outro identifica o que devemos transformar? Para mim a resposta é sim! Plagiando o próprio Jiddu Krishnamurti “o autoconhecimento é o começo da sabedoria, portanto, o começo da transformação da regeneração”. Esse é o milagre que espero.
O link do vídeo e mais informações sobre o filósofo:
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